Madeira de reflorestamento substitui aço e concreto em construções sustentáveis

Descubra como o uso de madeira de plantio está transformando construções sustentáveis, substituindo materiais tradicionais e reduzindo emissões de carbono
Descubra como o uso de madeira de plantio está transformando construções sustentáveis, substituindo materiais tradicionais e reduzindo emissões de carbono.
Foto: Wood Innovation Design Centre / Michael Green Architecture. Image © Ema Peter.
Madeira de reflorestamento substitui aço e concreto em construções sustentáveis

Matéria publicada originalmente por Viviane Sousa, Folha de São Paulo – As incorporadoras estão inovando ao utilizar madeira de plantio para estruturar edifícios e escritórios de alto padrão. Este método moderno inclui um processo industrial que cria peças pré-fabricadas de madeira, substituindo cimento, aço e concreto dos métodos convencionais.

Conhecida no Brasil como madeira engenheirada, essa técnica surgiu há cerca de 30 anos na Europa e já é amplamente utilizada em países como França, Áustria, Alemanha, Estados Unidos, Japão e Canadá.

O Programa da ONU para o Meio Ambiente (Pnuma) recomenda o uso de materiais como madeira, bambu e biomassa, sugerindo que essa substituição pode reduzir em 40% as emissões de materiais de baixo carbono até 2050.

Atualmente, o setor da construção é responsável por 37% das emissões globais de carbono. Dados da Associação Brasileira de Reciclagem da Construção Civil e Demolição indicam que o Brasil gera cerca de 84 milhões de metros cúbicos de resíduos de construção civil e demolição anualmente.

O que é madeira engenheirada?

Madeiras sustentáveis, como pinus e eucalipto, são utilizadas devido ao seu rápido crescimento e manejo simples. Durante o preparo, nós, trincas e rachaduras são removidos para garantir a qualidade do material.

As fibras da madeira são cruzadas para aumentar a resistência e passam por um processo de selagem. As peças são cortadas sob medida para cada projeto, com detalhes específicos para montagem, incluindo furos para instalações hidráulicas, elétricas e de ar-condicionado, que já saem prontos da fábrica. A construtora apenas encaixa as peças, semelhante a um grande jogo de Lego.

A montagem é seca, utilizando revestimentos que não necessitam de água ou preparo no local, como ocorre com o cimento tradicional. Materiais de revestimento como alumínio, vidro, drywall e placas cimentícias chegam prontos ao canteiro de obras.

Vantagens e desafios da madeira engenheirada

Arquitetos relatam que o trabalho com madeira engenheirada, antes da fase de construção, é mais lento e detalhado. No entanto, esse tempo é compensado por uma construção mais limpa, rápida e precisa. Outras vantagens incluem a redução do impacto ambiental, melhor isolamento termoacústico, peso reduzido e fundações menos profundas. A madeira deve ter Documento de Origem Florestal (DOF) e certificações de regularidade pelo Ibama, assegurando a origem sustentável das florestas manejadas.

A Noah Wood Building Design foi a pioneira na aplicação verticalizada desta técnica no Brasil em 2019 e ainda é a única empresa com 100% de seus projetos utilizando madeira engenheirada em alguma fase da construção. A empresa ganhou notoriedade ao lançar em 2020 o primeiro edifício sustentável com estrutura em madeira, o condomínio Arvoredo, na Vila Madalena, que será entregue no final de 2024.

Segundo Nico Theodorakis, CEO da Noah, a técnica permite deslocar parte da produção para fora do canteiro, criando uma frente de trabalho paralela, semelhante a uma fábrica. Além da sustentabilidade, a madeira engenheirada possibilita projetos arquitetônicos únicos, como o da Vila Madalena. “É possível fazer em um dia o que levaria uma semana com concreto e aço, reduzindo o tempo total da obra em até 50%”, afirma Theodorakis.

A realidade no Brasil

No Brasil, apenas 5% das empresas do setor utilizam madeira engenheirada, conforme a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). O país, que já foi referência na construção de concreto pesado, tem potencial para liderar também em construções sustentáveis, destaca José Carlos Martins, presidente do conselho consultivo da CBIC.

A Libercon Engenharia e Construção, com 20 anos no mercado, adotou a madeira engenheirada em 2019 e observou um aumento de 30% na demanda por construções sustentáveis em 2023. Contudo, essas construções ainda representam apenas 5% dos projetos da empresa. A falta de mão de obra qualificada e a necessidade de maior industrialização são desafios destacados por Nicola Cocciolito Filho, gerente de novos negócios da Libercon.

A Noah também enfrenta dificuldades com a escassez de mão de obra qualificada. Theodorakis ressalta a necessidade de políticas públicas para o desenvolvimento de novas tecnologias e a formação de profissionais especializados. “Treinamos nossa equipe no canteiro de obras, o que demanda tempo. Não há profissionais prontos no mercado”, conclui Theodorakis.

Assim, a madeira engenheirada surge como uma solução promissora para construções sustentáveis, trazendo benefícios ambientais e eficiência, embora ainda enfrente desafios significativos no Brasil.

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