Setor de tintas se destaca em um ano fraco para materiais de construção

Setor de tintas decorativas imobiliárias cresceu ainda mais, 3,6% - representa 75% de todas as tintas vendidas no país
Setor de tintas decorativas imobiliárias cresceu ainda mais, 3,6% - representa 75% de todas as tintas vendidas no país.
Setor de tintas se destaca em um ano fraco para materiais de construção

Matéria publicada originalmente por Ana Luiza Tieghi, Valor –O setor de tintas fechou o ano de 2023 com um desempenho notável, superando as expectativas em termos de volume comercializado. Registrando a venda de 1,87 milhão de litros, o segmento apresentou um aumento de 3,4% em relação a 2022, aproximando-se dos números de 2021, que foram os mais altos até então. Esses dados foram divulgados por Luiz Cornacchioni, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati).

O destaque recai sobre as tintas decorativas imobiliárias, que cresceram ainda mais, atingindo 3,6%. Este segmento representa 75% de todas as tintas vendidas no país. Esse desempenho surpreendente ocorreu em um período no qual o setor de material de construção enfrentou uma nova queda de faturamento, alcançando 2%, após já ter registrado uma queda de 6,9% em 2022, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat).

Dentro do recorte da Abramat, os materiais de acabamento, como as tintas, apresentaram uma queda de 6,8% no faturamento do ano, em contraste com o crescimento de 0,9% dos materiais de base. “Nós nos destacamos dos demais materiais de construção”, afirma Fabio Humberg, diretor de relações institucionais da Abrafati.

Cornacchioni atribui parte desse sucesso à persistente tendência de cuidados com o lar, impulsionada pela pandemia de COVID-19, onde a pintura se mostrou uma forma acessível de transformar o ambiente doméstico. Além disso, as melhorias nas condições macroeconômicas do país, com a redução das taxas de juros e uma inflação mais controlada, impulsionaram as vendas.

O segundo semestre, em particular, foi excepcionalmente positivo, com novembro e dezembro se destacando. Inicialmente, a Abrafati esperava um aumento de 2,5% no volume vendido no ano até julho.

Essas condições favoráveis também impactaram positivamente a venda de outros tipos de tintas. As tintas industriais, que representam 20% da produção nacional, registraram um aumento de 3,2% nas vendas. As tintas para repintura automotiva cresceram 2% em volume. A única exceção foi o segmento de tintas automotivas originais, vendidas para montadoras, que se manteve estável.

Para este ano, a Abrafati espera um novo aumento nas vendas, entre 2% e 2,5%. Humberg destaca que, sendo um ano eleitoral, há um impulso adicional nas obras públicas, aumentando a demanda pelo produto.

Cornacchioni também saúda positivamente o pacote anunciado pelo governo federal na semana passada para incentivar a indústria nacional, destacando a importância de uma indústria forte para um país forte, capaz de gerar empregos de qualidade e estáveis.

A continuidade da redução das taxas de juros e do desemprego, juntamente com a retomada de programas de infraestrutura e habitação, como o PAC e o Minha Casa, Minha Vida, são fatores que levam a Abramat a projetar uma recuperação no faturamento neste ano, com um aumento esperado de 2%. Essa mesma alta de 2% nas vendas é projetada pelo Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic), que teve uma queda de 1,7% em 2023.

Ambas as entidades divulgaram, na semana passada, os dados de janeiro, que indicam que o fraco desempenho de 2023 persiste no início deste ano. Houve uma queda de 2,4% nas vendas de cimento, em comparação com o primeiro mês de 2023. A Abramat registrou uma queda de 2% no faturamento no mesmo período.

O segmento de materiais mantém um otimismo cauteloso para o ano, especialmente no cenário interno. No entanto, existem preocupações em relação às crises geopolíticas na Europa e no Oriente Médio, que podem afetar os custos de frete de matérias-primas.

Sindicato de construtoras reclama de aumento no preço do cimento

O Sindicato das Construtoras do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) emitiu uma nota na última sexta-feira (9) em protesto contra um aumento de 10% que as cimenteiras estariam impondo ao setor, o que a entidade considera “injustificado”.

Yorki Estefan, presidente do sindicato, declarou ao Valor que a indústria de cimento não está experimentando um aumento na demanda. “Não vemos motivos para um aumento dessa magnitude”, afirma. “Outros setores estão se mantendo estáveis”.

Em janeiro, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que calcula a inflação no setor, registrou um aumento de 0,23% em relação a dezembro. No acumulado dos últimos 12 meses, houve um aumento de 3,23%, em comparação com 9% nos 12 meses anteriores.

Segundo Estefan, as cimenteiras alegam um aumento de 10% no preço da brita, devido à concentração de obras públicas.

Ele também observa que o setor é altamente concentrado e que os produtores aumentam os preços de forma simultânea a cada seis meses, deixando as construtoras sem opções e incapazes de repassar o aumento nos custos aos clientes. Até o momento, o Snic não comentou sobre o assunto.

Utilizamos cookies essenciais e tecnologias semelhantes de acordo com a nossa Política de Privacidade e, ao continuar navegando, você concorda com estas condições.