Setor de tintas se destaca em um ano fraco para materiais de construção
Matéria publicada originalmente por Ana Luiza Tieghi, Valor –O setor de tintas fechou o ano de 2023 com um desempenho notável, superando as expectativas em termos de volume comercializado. Registrando a venda de 1,87 milhão de litros, o segmento apresentou um aumento de 3,4% em relação a 2022, aproximando-se dos números de 2021, que foram os mais altos até então. Esses dados foram divulgados por Luiz Cornacchioni, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas (Abrafati).
O destaque recai sobre as tintas decorativas imobiliárias, que cresceram ainda mais, atingindo 3,6%. Este segmento representa 75% de todas as tintas vendidas no país. Esse desempenho surpreendente ocorreu em um período no qual o setor de material de construção enfrentou uma nova queda de faturamento, alcançando 2%, após já ter registrado uma queda de 6,9% em 2022, de acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat).
Dentro do recorte da Abramat, os materiais de acabamento, como as tintas, apresentaram uma queda de 6,8% no faturamento do ano, em contraste com o crescimento de 0,9% dos materiais de base. “Nós nos destacamos dos demais materiais de construção”, afirma Fabio Humberg, diretor de relações institucionais da Abrafati.
Cornacchioni atribui parte desse sucesso à persistente tendência de cuidados com o lar, impulsionada pela pandemia de COVID-19, onde a pintura se mostrou uma forma acessível de transformar o ambiente doméstico. Além disso, as melhorias nas condições macroeconômicas do país, com a redução das taxas de juros e uma inflação mais controlada, impulsionaram as vendas.
O segundo semestre, em particular, foi excepcionalmente positivo, com novembro e dezembro se destacando. Inicialmente, a Abrafati esperava um aumento de 2,5% no volume vendido no ano até julho.
Essas condições favoráveis também impactaram positivamente a venda de outros tipos de tintas. As tintas industriais, que representam 20% da produção nacional, registraram um aumento de 3,2% nas vendas. As tintas para repintura automotiva cresceram 2% em volume. A única exceção foi o segmento de tintas automotivas originais, vendidas para montadoras, que se manteve estável.
Para este ano, a Abrafati espera um novo aumento nas vendas, entre 2% e 2,5%. Humberg destaca que, sendo um ano eleitoral, há um impulso adicional nas obras públicas, aumentando a demanda pelo produto.
Cornacchioni também saúda positivamente o pacote anunciado pelo governo federal na semana passada para incentivar a indústria nacional, destacando a importância de uma indústria forte para um país forte, capaz de gerar empregos de qualidade e estáveis.
A continuidade da redução das taxas de juros e do desemprego, juntamente com a retomada de programas de infraestrutura e habitação, como o PAC e o Minha Casa, Minha Vida, são fatores que levam a Abramat a projetar uma recuperação no faturamento neste ano, com um aumento esperado de 2%. Essa mesma alta de 2% nas vendas é projetada pelo Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (Snic), que teve uma queda de 1,7% em 2023.
Ambas as entidades divulgaram, na semana passada, os dados de janeiro, que indicam que o fraco desempenho de 2023 persiste no início deste ano. Houve uma queda de 2,4% nas vendas de cimento, em comparação com o primeiro mês de 2023. A Abramat registrou uma queda de 2% no faturamento no mesmo período.
O segmento de materiais mantém um otimismo cauteloso para o ano, especialmente no cenário interno. No entanto, existem preocupações em relação às crises geopolíticas na Europa e no Oriente Médio, que podem afetar os custos de frete de matérias-primas.
Sindicato de construtoras reclama de aumento no preço do cimento
O Sindicato das Construtoras do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP) emitiu uma nota na última sexta-feira (9) em protesto contra um aumento de 10% que as cimenteiras estariam impondo ao setor, o que a entidade considera “injustificado”.
Yorki Estefan, presidente do sindicato, declarou ao Valor que a indústria de cimento não está experimentando um aumento na demanda. “Não vemos motivos para um aumento dessa magnitude”, afirma. “Outros setores estão se mantendo estáveis”.
Em janeiro, o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que calcula a inflação no setor, registrou um aumento de 0,23% em relação a dezembro. No acumulado dos últimos 12 meses, houve um aumento de 3,23%, em comparação com 9% nos 12 meses anteriores.
Segundo Estefan, as cimenteiras alegam um aumento de 10% no preço da brita, devido à concentração de obras públicas.
Ele também observa que o setor é altamente concentrado e que os produtores aumentam os preços de forma simultânea a cada seis meses, deixando as construtoras sem opções e incapazes de repassar o aumento nos custos aos clientes. Até o momento, o Snic não comentou sobre o assunto.